É uma história simples que fala de coisas simples.
23 de Novembro de 2006, quinta-feira
E depois, da mesma forma que apareceu, desapareceu. Volto a sentar-me em frente ao computador. Sinto-me angustiada com a situação no trabalho, nos estudos e com o facto de não me apetecer ler um livro, pintar uma tela, ir a um teatro. De repente é como se me tivessem roubado a vontade e sinto as minhas células a morrerem, uma por uma, asfixiadas por esta inércia... Tento lutar contra isso mas não consigo. De repente, nada na vida me parece preencher, nada me parece entusiasmar, todos os dias são iguais e nem tenho força, ou vontade, de imaginar um futuro diferente deste.
23 de Novembro de 2007, sexta-feira
Estou a sair do trabalho. Entro no carro e conduzo até à avenida Almirante Gago Coutinho. Estaciono-o, pego na mala, acendo um cigarro e caminho até à zona das partidas do aeroporto de Lisboa. Páro na tabacaria para comprar o jornal e leio-o, sentada no café, enquanto espero que no painel se assinale a minha porta de embarque. Estou ansiosa. É a primeira vez que viajo de avião sozinha e quero guardar cada nova sensação para recordar no futuro. No avião não consigo dormir, a vontade de chegar é muita e os espanhóis que conversam ao meu lado não dão tréguas. Mas está a correr tudo bem e consigo até espreitar pela janela e ver as cidades iluminadas lá em baixo como se fossem gigantes circuitos eléctricos. Quando piso terra, o P. espera-me com um papel onde vem escrito o meu nome e a seguinte mensagem "Bienvinguda a Barcelona". Rimos. Só no dia seguinte, ao acordar, consigo aperceber-me da importância deste momento. Desta vez Barcelona não é uma cidade para onde viajo em férias mas uma cidade onde vou viver, mesmo que só por um fim de semana.
Barcelona - Spain (2007)
23 de Novembro de 2008, domingo
Pego na bicicleta e vou dar uma volta a Belém, junto ao rio. Está frio mas não chove e acabo de ler o décimo primeiro livro deste ano. Quando chego a casa tomo um banho que me aquece o corpo e começo a preparar o jantar para dois. Chegas a tempo de corrigir todos os meus erros culinários enquanto falamos do bailado que eu insisti para irmos ver no dia anterior. Durante o jantar recordas-me que em tempos foste um grande bailarino mas que infelizmente, devido a uma lesão nos pés, foste afastado dos grandes palcos mundiais e das luzes da ribalta que te estavam destinadas à nascença. Rimos como duas crianças enquanto nos dirigimos para a sala. Acendes a televisão e eu preparo os pinceis para guardarmos na tela a paz deste dia.